Paternidade como Cosmovisão

Aos dezesseis anos, no ano em que fui batizado em Cristo, comprei uma casquinha de sorvete
para um menino de rua em Bogotá, Colômbia. É a primeira vez que me lembro de ter dado
algo a alguém que não tinha absolutamente nada a me oferecer em troca. Aliás, aquele menino
foi embora sem nem mesmo agradecer. Mas enquanto eu o observava contemplar com
admiração suas duas bolas de sorvete, esquecendo-se de lambê-las em sua alegria, a alegria
do Senhor encheu minha alma e eu reconheci meu chamado. Eu deveria encarnar e expressar
o amor do Pai dos Órfãos em um mundo cada vez mais órfão.
O tempo é uma batalha entre dois pais — o Pai das Luzes e o Pai das Mentiras. Cada um é,
por natureza, um progenitor, um produtor, um plantador de sementes para a multiplicação de
sua semelhança. Mas a semelhança entre eles se limita a isso.
O Pai das Luzes — Pai, Filho e Espírito Santo — é o doador de todas as boas dádivas. Ele
criou todas as coisas para o seu prazer e o prazer de seus filhos. Eles o conhecem como “o
pai das misericórdias e o Deus de toda consolação” e recebem suas dádivas com gratidão e
alegria. Nascem dele no Espírito Santo e se tornam semelhantes a ele por meio de Cristo,
andando na luz como ele está na luz, dando graciosamente mais do que recebem, plantando
sementes e colhendo o fruto duradouro da vida eterna e abundante.
O pai da mentira produz apenas mentiras. Ele pega o que é e o distorce para sua própria glória
e ganho. Sua estratégia egocêntrica é roubar, matar e destruir aquilo que Deus criou. Ele
engana aos órfãos, fazendo-os acreditar que não há pai nem que há necessidade de um. Ele
rejeita a alegria deles e rouba seus frutos, induzindo-os a se envolverem no que a Bíblia chama
de “obras infrutíferas das trevas”. Ele se disfarça de amor apaixonado e verdade
individualizada. Mas quando se trata de dar sem receber em troca, ele desaparece no ar.
Nada vem do nada. Todas as boas dádivas vêm do primeiro amor do Doador. O pai inicia a
vida. Damos identidade, proteção e direção aos nossos filhos. Nós construímos, disciplinamos
e nutrimos. Damos nossas vidas por aqueles que amamos.
Deus é um Pai Eterno que quer ser “nosso pai que está nos céus”. Somos feitos por Ele e para
Ele, a fim de nos tornarmos como Ele. Agostinho orou: “Tu nos fizeste para Ti, Senhor, e o
nosso coração está inquieto enquanto não repousar em Ti”.
Não é de se admirar que os pais e a paternidade estejam sob ataque. De acordo com o US
Census Bureau, 17,6 milhões de crianças americanas, quase 1 em cada 4, vivem sem um pai
biológico, padrasto ou adotivo em casa (https://www.fatherhood.org/father-absence-statistic).
Mas das casas que têm pai, quantos seriam pais ausentes ou abusivos? Em certo sentido,
todos nós temos pais negligentes que deixam um vazio em nosso coração que Nosso Pai
Celestial quer preencher.
Eu costumava acreditar que crianças precisavam de cuidados em lares "familiares", onde
eram protegidas de perigos, alimentadas, vestidas e educadas. Descobri que crianças não são
burras. Elas não se deixam enganar por nossos joguinhos institucionais de fingir ser uma
família. Até que encontram Deus como seu pai e rejeitam o deus deste mundo, o pai da
mentira, elas não conseguem saber quem são. Não sabem que são amadas. E não sabem
amar.

Thomas
Esposo da Susana, pai de 6 filhos e avô. Ex-superintendente da ABBA e capelão atual. Atualmente, é presidente da ACTION nos EUA e segue como um conselheiro e amigo dos membros da ABBA.