O maior tesouro do mundo

Marcos 14:1-11
Na ABBA, coordenamos um abrigo chamado Casa Elohim, onde crianças que passaram por alguma violação de direitos são trazidas até nós, pelos órgãos competentes. (O relato a seguir foi autorizado pelos autores e com alguns detalhes foram mudados para resguardar o sigilo das informações).
Houve uma menina que chegou na Casa Elohim com 9 anos de idade. Sua mãe era usuária de álcool e drogas e por isso entregou sua filha com 4 anos para morar com a avó materna. Essa avó era muito boa para com a menina, mas ela morreu três anos depois e por isso a avó paterna assumiu os cuidados. Como a menina aprontava muito (dizeres da própria menina) a avó a espancava batendo até sangrar. Ela chegou a fugir de casa várias vezes. Um dia, com já quase 9 anos, a avó bateu nela com a tampa da panela de pressão e a cabeça dela começou a sangrar (marcas que ela carrega até hoje). Ela diz só lembrar de correr e correr e nunca mais voltou para casa da avó paterna. Pegou um ônibus e foi para a centro procurar a sua mãe nas ruas da Cracolândia. Ela dormiu nas ruas por alguns dias até um morador de rua levar ela até a polícia. Assim aos 9 anos ela chega na Casa Elohim.
A menina cresce ouvindo falar sobre Jesus na Casa Elohim e sua oração todos os dias era pedindo por uma família. Os anos se passam e aos 14 anos de maneira muito improvável um casal entra em contato para adotá-la. Era um milagre nessa idade aparecer alguém para adotar uma adolescente negra. Todos celebravam e vibravam de alegria junto dela. Eles ficam em processo de aproximação por cerca de 5 meses, porém, por motivos pessoais do casal, eles desistem da adoção. Ela chega a passar por mais 2 famílias acolhedoras, mas por circunstâncias negativas ela retorna para a Casa Elohim e a menina se vê outra vez abandonada. Abandonada pela mãe, abandonada pela avó através da morte, abandonada pela outra avó através da violência, abandonada por outras pessoas que entravam e saiam da sua vida e agora abandonada de novo. Quando ela completa seus 17 anos dentro do abrigo, ainda orando por uma família, ela tem uma crise séria onde ela corre para a cozinha pega uma faca para tirar sua própria vida, foram 3 horas imobilizando-a das 16hrs até as 19hrs quando ela se acalma.
Com essa história quero convidá-los a ver a passagem de Marcos 14:1-11.
Nesta passagem temos a mesma narrativa no livro de Mateus e João com algumas diferenças importantes.
Mas gostaria apenas de focar no ponto em comum nos 3 livros que é uma mulher que derrama perfume sobre Jesus e os discípulos e os presentes acham um desperdício.
Conforme Marcos nos relata Jesus está em um jantar na casa de Simão, o leproso (provavelmente alguém que Jesus havia curado) reclina a mesa, porque era dessa forma que eles comiam na cultura e época de Jesus. Deitados em uma mesa e cadeira que os romanos chamavam de “tricliniun”.
Nesse ambiente entra uma mulher com um perfume muito caro, feito de nardo puro (salário de um ano de um trabalhador comum). Ela quebra o frasco e derrama o perfume na cabeça de Jesus.
Esse ato tem 2 implicações: A Primeira, o perfume de nardo puro tinha a consistência de óleo e Cristo, Messias, significa “ungido”. Esse feito era um ato também feito a reis na coroação do seu reino. Esse ação apontava para Jesus como Messias.
A segunda é aquela que Jesus nos diz sobre a preparação do seu sepultamento. Era costume derramar perfume sobre seus entes queridos mortos e quem faziam esses atos eram as mulheres.
Era um ato profético de puro amor, anseio e uma explosão de gratidão pela pessoa de Cristo. A própria mulher talvez não sabia o que estava fazendo a não ser amar profundamente Jesus com seu melhor. Ela adora a Jesus com tudo o que tinha de mais valor!
O ambiente então é tomado pela fragrância do perfume e então há uma repreensão severa contra aquela mulher por ter desperdiçado algo tão caro em Jesus sendo que aquilo poderia ser dado aos pobres como já era de costume dos judeus na páscoa que estava por vir em 2 dias.
Jesus a defende dizendo:
- "Deixem-na em paz. Por que a criticam por ter feito algo tão bom para mim?
- Vocês sempre terão os pobres em seu meio e poderão ajudá-los sempre que desejarem, mas nem sempre terão a mim.
- Ela fez o que podia e ungiu meu corpo de antemão para o sepultamento.
- "Eu lhes digo a verdade: onde quer que as boas-novas sejam anunciadas pelo mundo, o que esta mulher fez será contado, e dela se lembrarão".
Cristo estava se revelando como mais importante que os pobres, sendo Ele o maior tesouro de nossas vidas, como centro e razão de toda nossa existência.
As pessoas a repreendiam pela sua atitude por não reconhecer quem é Jesus! A mulher estava profundamente impactada porque reconheceu quem é Jesus Cristo, ela o adora como Deus de sua vida, a razão de toda a existência, a razão de tudo!
O quanto temos percebido o real valor de Cristo?
Será que temos dado mais valor para nossas contas bancárias, para nosso ministério, para nossa caridade, para nossa carreira, para nosso trabalho, para nosso patrimônio, para uma família o quanto damos valor à filhos bem-sucedidos ou a nossa saúde?
Todas essas coisas podem ser boas, mas quando são vistas como razão de nossa existência elas fazem com que percamos o maior tesouro de toda a nossa vida! Por isso te convido a refletir e olhar para cruz e seu sacrifício novamente.
Quando foi a última vez que você chorou por amor a Ele? Quando foi a última vez que seu coração se estremeceu em emoção, dor e comoção diante da cruz? Quando foi a última vez que seu coração desejou ardentemente, mais do que tudo a Ele. Seu valor é absurdamente, incomparavelmente maior do que qualquer coisa em todo o universo.
Ele é o nosso maior tesouro! Nosso maior bem, nosso maior amor!
Ah, lembram da menina...
Depois do último episódio a menina reconheceu em algum ponto que Jesus tinha maior valor em sua vida do que uma família, sua maior necessidade era ter a Jesus como Senhor e Salvador de sua vida. Pude ver a alegria retornar ao seu coração ferido. Depois de 2 meses ela decidiu ser batizada na Igreja e depois de mais 4 meses, Deus respondeu sua oração e aos 17 anos e 8 meses de idade de maneira muito improvável um milagre aconteceu a menina foi adotada.
¹⁷ Ainda que a figueira não floresça e não haja frutos nas videiras, ainda que a colheita de azeitonas não dê em nada e os campos fiquem vazios e improdutivos, ainda que os rebanhos morram nos campos e os currais fiquem vazios,
¹⁸ mesmo assim me alegrarei no Senhor; exultarei no Deus de minha salvação!
Habacuque 3:17,18

Gerson Jikal
Missionário na Abba, servindo as crianças na Casa Elohim ( serviço de acolhimento institucional)
É casado com Chelly e tem 4 filhas