
Aconteceu na casa Boas Novas
"O Som da Transformação"
Na comunidade apertada da favela da Peinha, onde as vielas carregam histórias de lutas e superações, vivia Mateus* , um menino de apenas 8 anos, mas com um coração pesado como o de um adulto. Preto, adotado ainda bebê por um casal simples da comunidade, Mateus cresceu em meio ao caos: o pai alcoólatra, a mãe sobrecarregada e uma casa onde o afeto e carinho eram escassos.
Mateus era conhecido por sua energia incontrolável. Na escola, ninguém queria sentar perto dele — era agressivo, respondia aos professores, quebrava lápis e arrancava folhas dos cadernos dos colegas. Em casa, os gritos eram frequentes, e o silêncio, um luxo raro.
A Casa Boas Novas entrou na vida de Mateus como uma tentativa da mãe, já cansada, de buscar ajuda. Ela ouviu de uma vizinha que lá as crianças aprendiam música, inglês, faziam artesanato e tinham aconselhamento. Tentaram de tudo com Mateus: aulas de violão, pintura, artesanato, inglês, até um grupo de apoio com psicólogos. Mas nada parecia funcionar.
Foi quando chegou à Casa Boas Novas um missionário alemão. Quase ninguém entendia direito o sotaque dele no começo, mas bastava vê-lo tocar o cajon para entender sua linguagem: a música. Esse missionário notou Mateus de cara — aquele menino inquieto, que batucava sem parar nas mesas, nas paredes, no chão. Sua missão? Cuidar do Mateus!
Um dia, ele chamou Mateus e disse com um sorriso:
— "Você quer bater? Então bate aqui!"
Colocou um cajon diante dele.
A princípio, Mateus apenas descarregava sua raiva no instrumento. Mas aos poucos, aquele missionário foi ensinando ritmo, controle, escuta. Dia após dia, ele voltava. Era como se aquele instrumento simples estivesse traduzindo sua alma.
Sem perceber, Mateus começou a mudar. Na escola, sua professora notou que ele já não brigava tanto, que pedia para sair da sala com educação, que trazia o caderno organizado. A coordenadora pedagógica chegou a perguntar à mãe:
— "O que vocês fizeram com o Mateus?"
A resposta veio na ponta da língua:
— "Coloquei ele na Casa Boas Novas. Se você tem um menino atentado, coloca lá... eles dão jeito."
Com o passar do tempo, o impacto se estendeu além de Mateus. Seu pai, comovido pela transformação do filho, decidiu buscar ajuda, largou a bebida e conseguiu um emprego. Sua mãe, agora com menos peso e mais esperançosa, passou a tratar o filho com carinho, como nunca.
A mudança foi tão profunda que, certo dia, a coordenadora e a professora foram pessoalmente até a Casa Boas Novas. Bateram no portão e perguntaram:
— "Que projeto é esse que transformou a vida e a família do Mateus?"
Mateus se transformou em referência na comunidade até começou a tocar cajon nos cultos onde sua família frequentava. Fez apresentações na escola e na Casa Boas Novas. Ainda é um menino cheio de energia, mas agora canalizada para algo que constrói, não destrói.
No som firme de suas mãos, o cajon toca e ecoa a prova viva de que amor, atenção e propósito têm o poder de mudar destinos.

Roberto Medeiros
Casado com Ester Medeiros, pai da Ellen e da Sophia, servo de Jesus. Formado em Teologia, músico auto- didata, missionário na ABBA desde 2014. Coordenador da Casa Boas Novas