Afeto para avida

O desenvolvimento humano vai além de seu aspecto físico. Você sabia que somos os únicos seres que necessitam da afetividade para sobrevivência? Sim, para sobrevivência! Se um bebê tem todas as suas necessidades fisiológicas, como higiene e alimentação, supridas, mas sem uma relação mínimia de afeto e interação humana, ele poderá morrer. Nosso desenvolvimento humano, o que definirá nossa sobrevivência ou não, depende de relações afetivas. Uma criança que não é tocada, acariciada, que não é olhada nos olhos, ou a quem palavras carinhosas não são direcionadas, não se desenvolverá plenamente.

Essa relação entre afeto e desenvolvimento físico, cognitivo, emocional e social tem sido amplamente pesquisada nos últimos 60 anos. O que se sabe, certamente, é que a privação de relações afetivas e seguras, principalmente na primeira infância, acarretará em danos permanentes. Um dos pontos de grande discussão nessa área é o impacto desses danos para a sociedade. O impacto social de indivíduos que cresceram privados de relações afetivas seguras tem a ver com educação, saúde, economia e até segurança pública.

Podemos perceber, por exemplo, a atenção que empresas têm com a capacidade emocional de seus candidatos. Sendo a capacidade emocional intrínseca a cada ser humano, as questões técnicas podem ser aprendidas. Contudo, danos causados no âmbito emocional são questões dificilmente alteradas na vida adulta, o que pode afetar diretamente o ambiente de trabalho e torná-lo mais ou menos colaborativo e produtivo. Portanto, a vida afetiva e seu impacto se torna cada vez mais importante e real no mundo em que vivemos.

Essa é uma realidade universal que afeta cada um de nós, como seres humanos. Da mesma forma, a privação e a negligência de relações afetivas seguras pode estar presente em qualquer contexto. Tal negligência, portanto, pode acontecer no âmbito de uma família que atenda muito bem as questões materiais de um bebê. Para esses casos, nosso alcance quanto sociedade e governo é limitado e quase impossível de enxergar e pontuar em tempo real. Existe, porém outra realidade social que, sim, está ao nosso alcance. Existem milhares de crianças que não somente são privadas de relações afetivas seguras, mas se encontram em situação de vulnerabilidade e negligência extrema, assim como sofrem com maus tratos. Essas crianças são normalmente encaminhadas para serviços de acolhimento institucional, como medida protetiva de seus direitos e de sua integridade física. Contudo, tal medida protetiva não supre adequadamente as necessidades afetivas dessas crianças.

Aqui não está sendo tratado a qualidade do acolhimento institucional, mas do formato dele e uma consequência de efeito colateral. No acolhimento institucional não é possível o atendimento afetivo personalizado de cada criança.

A legislação brasileira, no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), contém artigos que garantem o direito da criança e do adolescente viverem em família. Sendo assim, além do serviço de acolhimento institucional, que apesar de adverso em alguns aspectos e ainda necessário, existe também a modalidade de acolhimento familiar, que é apontado como preferencial. Nessa modalidade, o atendimento à criança é feito de forma personalizada e integral por uma família. O acolhimento familiar é um trabalho social ao alcance de qualquer pessoa e família. É uma oportunidade real de atuação cidadã aonde a família abre, além de sua casa, o coração para acolher temporariamente uma criança, até que ela retorne a sua família de origem ou substituta. Ao se abrir dessa forma, a família cria oportunidades para potencializar um futuro diferente para a vida da criança. Essa experiência pode, de fato, moldar um adulto diferente numa sociedade tão carente de reais valores proporcionados pelo afeto.

Semeando amor poderemos colher um mundo com mais amor. Podemos contribuir para a formação de pessoas com suas questões afetivas e emocionais preservadas, desenvolvendo competências básicas para uma vida saudável, para um caminhar mais seguro e com autonomia. É bom que se frise que o amor e o cuidado são aprendidos e vitais à vida humana. Portanto, ensinemos isso no caminhar, doando na prática do dia a dia. Amor é a única coisa que cresce quando se doa.

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